Rapace, o livro de estréia de André Capilé é jogo matreiro de linguagem. Rapina de aves que se arrogam o direito e o dever de entortar o apaziguado estar do sujeito bem posto, do homem de bem. Rapinar é repaginar a vida reentrar nas novas diretrizes da poesia brasileira. Os poemas do livro travam uma briga com determinadas facilidades, uma programação de fossos de leitura ou corrida com barreiras, que obriga a atenção detida, na medida em que é necessário olhar/ouvir mais de uma vez. O autor comenta: “rapace, com sorte, pode ser visto como livro-manifesto.” De fato os poemas apontam para uma gama variada de cenas que desmentem certas questões da crítica contemporânea de poesia, como a que afirma que projetos coletivos são impraticáveis; que a questão do “nacional” não é um problema; que há despolitização e alienação. Ser brasileiro, sim, é dado; mas o Brasil ainda é uma questão, cada vez mais, discutível. De qual Brasil falamos, quando falamos Brasil?”, provoca o autor.